Ao longo do nosso crescimento, somos afastados da nossa essência de criança, mas as memórias inconscientes da nossa infância, principalmente da primeira infância (dos 9 meses de gestação aos 3 anos) que é precisamente de quando menos nos lembramos, mas que define muito da nossa personalidade e influencia a nossa vida, as nossas ações, relações, etc.

Todos, sem exceção, temos uma criança interior para curar. Todos temos uma criança interior para acolher, para olhar, para honrar…E é muito difícil um adulto ser realmente feliz sem o resgate da sua criança interior.

Olhar para a criança interior, e para a nossa infância, é como olhar para a causa de sintomas que temos em adulto. E por isso, é que é tão importante para entendermos os nossos medos, traumas, ações, carências.

Tens medos irracionais que não entendes de uma forma racional? Que não fazem sentido? Que não sabes de onde surgiram? Que podem nem fazer sentido nenhum?

Achamos que só as pessoas com grandes traumas na infância precisam de fazer este processo, reprimimos a nossa criança, mas ela fica sempre lá, no backoffice da nossa mente.

Associamos o trauma a eventos dramáticos como acidentes, violações, mortes… Mas o trauma, é uma resposta emocional a uma experiência difícil, stressante, angustiante. E apesar de associarmos trauma a algo muito significativo, para um bebé e para uma criança, pequenas coisas, do ponto de vista racional de adulto, numa sociedade pouco empática, podem deixar grandes marcas numa criança. Palavras, ações, memórias que ficam marcadas no nosso inconsciente.

Vários autores e especialistas referem o parto como “O primeiro trauma do bebé”. Por isso, não me parece possível que exista uma infância ausente de trauma ou um adulto que não precise de olhar para a sua criança interior.

1- Aceita que tens uma criança interior que precisa de ser olhada, acolhida, honrada, curada.

Ela não vai desaparecer sozinha ou com o passar do tempo. E influência mais do que possas imaginar, desde a forma como vemos o mundo, como vivemos, como nos relacionamos. É a base da nossa construção enquanto pessoa e por isso influencia em tudo.

O objetivo não é esquecer ou apagar a nossa criança interior, mas sim, enquanto adultos ressignificar as experiências vividas, e conviver com a nossa criança interior em amor.

2 – Por mais desafios que possas ter vivido, Honra e Aceita quem te trouxe a este mundo e quem te criou.

Neste processo tão íntimo e pessoal, em alguns momentos temos a tendência a culpar os nossos pais, a nossa família, as nossas circunstâncias. Até que um dia, compreenderás que tinham que viver tudo o que viveram, para que o processo necessário acontecesse, e que as circunstâncias proporcionassem a oportunidade de crescimento para o passo seguinte. 

Quando percebemos que tudo acontece como é suposto, olhamos para a nossa história com um olhar de compreensão, de entendimento, de respeito por todos os que fizeram o seu melhor, que agiram, falaram e fizeram da forma que sabiam e que na sua miopia achavam que era o melhor. Culpar alguém que fez o seu melhor e guardar mágoa ou ressentimentos que não nos levam a lado nenhum, e que em última instância, nos fazem mal a nós. Limpar a culpa que depositamos nos outros, nas circunstâncias ou em nós, faz parte da cura da nossa criança interior.

3 – Mais que racionalizar e nos lembrarmos do que aconteceu, é compreender o que aquela criança sentiu naquela circunstância

Sentir o que aquela criança sentiu. Olhar para a forma que te sentes ou que te sentiste sem críticas, sem julgamos, sem justificações, sem a visão do adulto, sem a leitura literal de uma circunstância, e sim, honrar as emoções que a tua criança interior experienciou.

E permitirmos sentir determinadas emoções e dores é muito difícil e aconselho que o façam com um terapeuta.

Enquanto não fizermos este processo de cura, continuaremos a repetir padrões que surgem da nossa infância e que afetam a nossa vida adulta. Chegou a hora de enfrentar a resistência de olhar para dentro e para o nosso passado.

Normalmente, lembramo-nos do muito bom ou do muito mau. Por norma, a maioria das memórias de infância estão bem guardadas e não nos lembramos delas assim tão bem, mas elas continuam a fazer parte de nós e estão gravadas no nosso inconsciente.

Sem olharmos para dentro, para a nossa criança interior, entender as suas feridas, dar-lhe colo, honrar as suas dores, emoções, sentimentos, tudo o que na altura não tinha capacidade para processar mas que agora, enquanto adultos, podemos e devemos ressignificar as experiências que nos causaram as feridas que ainda estão abertas. 

Para sentir o que a tua criança sentiu, muitas vezes é necessário mergulhar e analisar as nossas memórias. Se achas que são memórias difíceis de lidar sozinh@ ou que são impossíveis pela sua gravidade, aconselho vivamente que o faças com apoio de um terapeuta, seja um psicólogo, psicoterapeuta, etc. Se não te sentes capaz de lidar com as situações do teu passado, por favor, pede ajuda e sabe que não estás sozinh@.

Existem várias formas para nos re-conectarmos com a criança interior e fazermos o processo de cura, seja num contexto terapêutico, seja por nós mesmos, com por exemplo, mediações guiadas.

O EU adulto precisa de acolher o EU criança, mas isto só possível se trouxermos para a consciência estas memórias inconscientes.

A maioria de nós não considera ter tido uma infância traumática e por isso acho que deves começar por escrever sobre os momentos que te sentiste humilhad@, desrespeitad@, mal amad@, que sentiste que não pertencias ou que não te compreendiam.  

Normalmente situações da adolescência estão mais presentas mas tenta mergulhar o mais fundo possível. 

Tenta o exercício de fechar os olhos e veres a primeiras memórias que te ocorrem sobre a tua infância. Consegues alguma memória até aos 3 anos de idade? Com que idade tinhas na memória mais antiga de ti que te consegues recordar? 

Reflete e sente a primeira memória mais antiga que vem à tua cabeça.

Em que momentos na tua infância sentiste humilhação, incompreensão, solidão, abandono?

Abraça a tua criança interna. Dá-lhe o amor e compreensão que não foi dada à criança que está dentro de ti.

Se não tiveres memórias da tua infância ajuda fazeres questões à tua família, a quem te criou e passou mais tempo contigo nessa altura da tua vida (principalmente até aos 3 anos)

Quando começas este processo, ganhas a consciência de quando, e como, a nossa criança interior vem ao de cima. Não significa que deixe de vir ao de cima, mas começamos a perceber porquê. Começamos a conseguir identificar quando ela ganha vida novamente, e quais as situações que ativam a nossa criança interior.

Alguns exemplos pessoais de quando a minha criança interior é ativada. Por exemplo:

– Quando as coisas não acontecem da forma como idealizo

– Quando não me fazem a vontade

– Quando me levantam a voz

São só alguns exemplos.

Pede ajuda, caso tenhas poucas memórias.

Pede ajuda, se as memórias forem muito difíceis de lidar.

Pede ajuda, se te sentires mal por as tuas memórias serem boas.

Reflexões finais:

Como a minha criança interior ainda está presente?

Que partes do meu inconsciente ainda estão no comando por esta criança interior esquecida?

Como a minha criança interior afeta as minhas relações? Como afeta a relação comig@ própri@ e com o outro?

Se é um tema que te interessa aconselho-te:

Episódio 16 | Criança Interior do meu podcast Sentido B – Spotify


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