A fotografia que ilustra este texto, conta a história do dia em que um grupo de jovens, combinou subir a montanha mais alta da Eslovénia – Triglav. Eu estava nesse grupo, aproveitar a incrível beleza natural eslovena. Começámos a subir e eu já estava cansada, demasiado carregada com as muitas coisas que trazia às costas, dado que o objetivo era passarmos a noite no único hostel do topo da montanha, que nos informou gentilmente, que não tinham água potável. Entre bastante roupa, porque ia com medo do frio, vários litros de água e mais umas quantas coisas desnecessárias, levava peso a mais para a minha condição física.
Depois de 30 minutos, já estava muito mal e já tinha utilizado a minha bomba de asma. Depois de 2 horas de subida, e já ter utilizado todas as doses de medicação recomendadas, algo em mim me disse bem alto que eu tinha que parar. Sabia que estava a atrasar o grupo, que por esta altura já devíamos ter subido o dobro do que subimos, e por mais que houvesse muita gentileza e bondade de todos em acompanhar o meu ritmo, e até de carregarem as minhas coisas, eu não podia continuar. Íamos todos ter que caminhar de noite porque eu estava a atrasar o grupo, para além disso eu sabia que não estava bem, a altitude, o cansaço e a falta de ar não estavam a melhorar, antes pelo contrário. Sabia que não era seguro para a minha saúde usar mais vezes a bomba. Sabia que não ia conseguir aguentar mais 6 horas de caminhada, quando já nem forças tinha. E é, mesmo muito importante, entender o limiar, entre a determinação teimosa e os limites do nosso corpo.
Entender o limiar, entre a determinação teimosa e os limites do nosso corpo.
Soube, com todas as forças que ainda me restavam, que não podia continuar. Fiz contas de cabeça e sabia que conseguia voltar para baixo sozinha, devagar, ao meu ritmo, em plena luz do dia. Decidi parar de subir com o grupo e descer sozinha. Sabia que me esperavam pelo menos duas horas de descida (que acabaram por ser três), mas que no final, teria um carro e um hotel à minha espera.
Naquele momento, a minha intuição gritava dentro de mim, e dizia-me que não podia continuar. Algo mais forte que eu, que me ordenou a parar de subir, a desistir daquela situação em vez de desistir de mim. Se foi desafiante descer sozinha? Foi. Se deu medo? Bastante. Mas eu sabia, que era o melhor e mais seguro para mim.
Sinceramente, não sei o que teria acontecido se não me tivesse ouvido. Ouvir-me, salvou-me.
No dia seguinte de manhã, soube que tínhamos que ir buscar uma das portuguesas do grupo ao hospital, tinha sido evacuada de helicóptero por ter ficado sem mobilidade na manhã seguinte, devido ao esforço extremo…
Quando queremos ir rápido demais, a um ritmo que não é o nosso, só para acompanhar o grupo, estamos a por de lado o que é verdadeiramente melhor para nós. E ás vezes, aquilo que é melhor para nós, não é o melhor para o grupo, e vice-versa. É preciso estar atento, e conectado com o nosso corpo e com o que nos rodeia, para ter a sabedoria de entender a diferença.
Não podemos querer ir ao ritmo dos outros, sem nenhuma preparação prévia. Foi uma das grandes lições.
Sou grata por esta experiência que tanto me ensinou. Sou grata por ter ouvido a minha intuição e ter honrado a minha vida. Sou grata por ter ouvido o meu corpo, ter respeitado a minha sabedoria interna e os meus limites. Sou grata por ter desisto da circunstância, mas nunca de mim.
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